terça-feira, 13 de outubro de 2009

Uma conversa sobre análise do discurso fílmico...

Estamos acostumados a utilizar o processo de análise do discurso apenas a textos escritos ou a textos relacionados ao mundo acadêmico ou particularmente ao universo didático escolar. Contudo, a análise textual é um fator muito mais profundo, pois percorre vários feixes de possibilidades interpretativas sob diversos aspectos relacionados ao nosso cotidiano em textos que nos deparamos nas tarefas mais simples do nosso dia-a-dia como receitas médicas, prospectos de propaganda,vestimentas, figuras de cartazes,fotografias, outdoors e muitos outros textos .Acostumar-se a uma leitura de mundo mais profunda nos torna mais críticos e mais atentos principalmente nas construções persuasivas que nos cercam. Vejamos aqui apenas aum exemplo dessas possibilidades através da análise textual fílmica do filme Cidade de Deus que assisti esta semana.
Diante dos estudos propostos de análise do discurso como Foucaut e principalmente da afirmação teórica de Fairclough referente às construções da realidade ideológica e segundo o texto de Luiz Antônio Marcuschi, que trata dos aspectos relativos à produção, circulação e funcionamento dos gêneros textuais como formas de controle social, passei a lançar um olhar diferenciado sobre as análises fílmicas cotidianas, contudo um filme em questão instigou-me a tentativas mais profundas que colocassem os temas abordados em análise do discurso dentro dessa perspectiva de análise semiótica – O filme Cidade de Deus de Fernando Meirelles.
Trata-se, em seu contexto, não apenas mostrar que a significação cinematográfica não pode ser convenientemente analisada se nos prendermos à definição de linguagem como sistema de signos destinados à comunicação; mas também colocar-se em quadros mais amplos de pesquisas semiológicas atuais. Nesse caso a palavra “texto” não se aplica apenas como o elemento verbal do filme. Além disso, a manifestação dos sentidos pode-se efetivar por processos que envolvem tanto dispositivos da ordem do inteligível quanto da ordem do sensível. Pelas manobras do inteligível, nos são revelados temas, personagens, ações, que se projetam no tempo e no espaço, trazendo a sensação da temporalidade dos fatos, do espaço traçado a certos domínios e de sua inserção na memória. Pelo sensível, tais mecanismos ganham sobre determinações de natureza afetiva: o discurso não nos diz algo apenas, mas nos leva a sentir seus efeitos, a compartilhar sensorialmente dos estados emotivos presentes no nível do enunciado, a acelerar o ritmo de nosso próprio corpo em consonância com o ritmo dos acontecimentos narrativos ou a distendê-lo em estado de êxtase ou serenidade quando assim se desenrola a trama discursiva.
Esses procedimentos ocorrem em diversos tipos de textos, verbais, visuais, audiovisuais, e em suas diferentes modalidades, no texto jornalístico, televisivo, publicitário, fílmico, etc. Eles fazem parte, portanto, dos fenômenos que tocam o domínio da comunicação, na medida em que toda interação mobiliza recursos simbólicos. E diante de uma análise discursiva e dos elementos analíticos propostos em Faiclough como os modos de operação da ideologia que se refere à legitimação, dissimulação, unificação, fragmentação e reificação (coisificação) que definem realidade ideológica do discurso do filme, tanto no que se referem aos diálogos quanto à análise semiótica simbólica utilizada por Fernando Meirelles, traçar pontos de tensão em que se constrói o discurso da violência e consequentemente as relações de poder no espaço da Cidade de Deus retratado no filme.
As questões levantadas apresentam a análise das categorias textuais de Fairclough tendo como foco os aspectos semióticos, a coesão e o vocabulário do filme.Porque para Fairclough o sujeito é interpelado e ao mesmo tempo criativo e ativo no processo discursivo social; diferente da análise de Pêcheux ,por exemplo, pois acredita que o sujeito é um ser passivo. Assim, as análises sob o a luz das teorias propostas por Fairclough se adequariam mais ao estudo das relações sociais no filme, já que este estudo pretende examinar os aspectos textuais e semióticos do filme segundo uma análise do discurso crítico, sendo o foco do estudo a construção da violência e a legitimação do poder que se estabelece principalmente no discurso dos personagens e nas imagens simbólicas apresentadas.
Outro ponto relevante abordado e que seria indispensável para o entendimento das relações de discurso e poder é uma análise das particularidades do processo de constituição subjetiva de crianças e adolescentes que vivem na rua baseia-se no pressuposto de que este processo é articulado à construção do laço social, ancorado nos conceitos psicanalíticos de Lei, ideal e identificação. Considera que não há subjetividade que se organize fora do laço social, sendo que os discursos não são senão o modo em que se efetiva esta articulação com o laço social; articulação que parte da constatação dos efeitos da presença do Outro na subjetividade. Além de entrar na especificidade dos tipos de discurso, vale ressaltar a força e a imposição das identidades que se projetam o discurso do Outro, e que é relevante à constituição do próprio sujeito, mostra-se impregnado da produção imaginária do grupo social, ou seja, o discurso do Outro remete ao imaginário social na medida em que contém fantasmas dos grupos sociais. Para atingir os objetivos propostos, é imprescindível ter um referencial quanto à abordagem qualitativa que considera o cerne do sentido do discurso: o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, que estão ligados a espaços de relações e fenômenos que não podem ser reduzidos à análise vocabular, mas a um conjunto de fatores apresentados pelo filme que caracteriza a violência em todas as formas do discurso.

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