quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Discurso e poder na Escola

A escola está inserida em um contexto de respeito e de produção do discurso acadêmico  e com base na valorização do discurso "daquele que sabe", contudo essas relações desiguais entre "aquele que sabe e fala" e "aqueles que não sabem e ouvem" têm produzido a exclusão daqueles grupos nos quais os universos não correspondem ao discurso privilegiado no espaço escolar. Deste modo, o discurso torna-se uma ferramenta de manutenção dessas relações de poder que se revela a todo instante no espaço escolar. mas, é possível notar uma mudança significativa dessa relação atualmente, já que (pelo que tenho observado em muitas escolas)  a posse do discurso é quase que "tomada" do professor em sala, e este a todo custo tenta retomá-la.
Não é possível mais obter a posse do discurso em sala por meio de ameaças, como no passado que por muito tempo se fez.O discurso hoje é conquistado!!Muitos educadores precisam aprender ,que além de ser um "expert", ou seja , um especialista em sua disciplina, é preciso conquistar o discurso...que se revela nessa singela e importante homenagem: "a posse e guarda do discurso!" É concedido!Não é exigido...Esse "passe livre" é dado quando temos segurança, paixão pelo o que fazemos, quando acreditamos que há uma saída, quando não achamos que está tudo perdido, quando não olhamos para os alunos com a sensaçao de que "não há nada a ser feito", quando estamos preparados para dar a aula (ou seja planejamento!), quando  paramos de culpar o sistema pela péssima educação do país, quando percebemos que podemos fazer a diferença, quando mostramos para eles que o "poder é deles!"...rsrrss...é loucura...mas é!O que devemos fazer é ensiná-los a saber o que fazer com esse poder e aprender a lidar com esse poder dentro de sala também, pois quando temos o poder do discurso , algumas vezes nos tornamos ditadores!Facistas e chatos!! !Precisamos de humildade sim!
Bem, isso não é teoria!Tenho vivido essa experiência...e percebido respostas surpreendentes!      

Quando não encontro palavras...elas me encontram...

O apanhador de desperdícios


Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto das palavras

fatigadas de informar.

Dou mais respeito

às que vivem de barriga no chão

tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas

Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim um atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restos

como as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato

de canto.

Porque eu não sou da informática:

eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor meus silêncios.

BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In. PINTO, Manuel da Costa.

Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74.