quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Quando não encontro palavras...elas me encontram...

O apanhador de desperdícios


Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto das palavras

fatigadas de informar.

Dou mais respeito

às que vivem de barriga no chão

tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas

Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim um atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restos

como as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato

de canto.

Porque eu não sou da informática:

eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor meus silêncios.

BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In. PINTO, Manuel da Costa.

Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74.

Um comentário:

  1. Oi Ana Paula, sou Silvia Helena Augusto profª de Matemática e adoreiiiiiiiii seu blog, parabéns!!!
    Preciso de seu e-mail para enviar o trabalho de pós graduação, Docência do Ensino Superior.
    Me passaram seu e-mail errado.
    silviahelenaugusto@hotmail.com
    Agradeço sua gentileza
    Silvia Helena Augusto

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